Há anos que penso em escrever e ter o meu próprio blog, mas, na correria do dia a dia fui sempre deixando para o amanhã. Ora, hoje não há desculpa para deixar para o dia seguinte, pois pela primeira vez nos meus trinta anos de existência, vejo-me numa quarentena forçada e pior, no desemprego, devido a este mal fadado Covid-19.
Sempre fui uma pessoa activa com imensas ideias e projectos, gosto de uma vida agitada e corrida e quando tenho um pouco de tempo livre é para dedicar em exclusivo à minha família e aos meus amigos.
Gosto de me arranjar, de sair, me divertir, conversar, enfim, gosto de socializar.
Estou no Luxemburgo há 6 anos e trabalho como assistente dentária há 5, dia 24 de Janeiro de 2020, assinei contrato com uma nova clínica, pois sentia que não poderia mais evoluir na clínica em que trabalhava e ansiava por um novo desafio.
O contrato previa entrada no dia 1 de Março de 2020 com um período de experiência de 6 meses, tal como previsto, no dia 1 de Março iniciei o meu novo desafio e durante uma semana e meia estive radiante com todo o novo aprendizado e experiência.
Infelizmente, o Covid-19, não tardou a bater-me à porta e a virar a minha vida de pernas para o ar, felizmente, não estou contagiada, no entanto, todo o meu esforço e trabalho até ao momento foram por água abaixo, pois rapidamente começamos a ter imensas desmarcações e anulações, procedimentos mais evasivos tiveram de ser remarcados e como uma simples e lógica equação de matemática, deixei de ser necessária na clínica.
O meu patrão veio falar comigo muito consternado, devo salientar e disse-me que face a situação actual, teria que prescindir os meus serviços, pois não tinha tempo para me dar a formação adequada à clínica de topo em que estava a trabalhar, disse-me que assim que esta situação terminasse teria todo o gosto em que eu voltasse a trabalhar com ele, pois depois teria tempo para se dedicar à minha formação.
Compreendo perfeitamente a posição do mesmo, é a lógica da oferta e da procura, no entanto, dei por mim, pela primeira vez, desempregada e a repensar os propósitos da minha vida.
Passamos a maior parte dos nossos dias numa correria desenfreada com trabalho, casa, filhos, preocupamos-nos em tentar ganhar sempre mais dinheiro para comprarmos coisas que não precisamos e que não contribuem em nada para a nossa felicidade.
Não me levem a mal, eu gosto de dinheiro e sei a importância que o mesmo tem no meu dia-a-dia, no entanto, se há coisa que esta pandemia me fez perceber é que o meu consumo não é consciente, desperdiço pequenas quantidades de dinheiro em coisas completamente banais e desnecessárias sem sequer olhar para a proveniência dos mesmos.
Uma das coisas que tenho a certeza que vou passar a ter em atenção depois de todo este pesadelo passar é a um consumo consciente e minimalista.
Espero que tudo isto passe o mais rapidamente possível, que nenhum dos meus sofra e que comecemos a perceber que o que temos como garantido hoje, pode não ser amanhã.
